sexta-feira, 21 de agosto de 2020

o tempo em segmento de recta

 Uma mensagem de Viseu


O tempo retrai-se no tempo

Traz consigo tempos de outros lugares

De outros tempos

Que passaram pelo tempo


E agora perguntam coisas antigas

E não encontro respostas

Só recordações desse tempo


Afinal não sei nada do tempo

Que me encurralou em mistérios

Que ele próprio construiu

E me leva até à cidade fria

muito quente no verão


Também ao Casal de Ribafeita

E ao largo das mães

E à rua formosa


Em aventuras de garotos

Com melões 

e o ginasta de circo ao ar livre

no cimo dum prumo alto e flexível


Deixo-me enredar por este tempo

Que finalmente me mostra

Que não é uma linha recta


Que tempo será este 

Que tanto julgamos que nos quer revelar

E afinal 

É um simples segmento de recta.


Talvez venhamos a compreender-te

Um dia

Ó tempo  ......

......


a caminho da foz

amanhece

o silêncio acorda

estremunhado

com pouco tempo

para os preparativos

duma viagem no tempo


hoje é um dia de emoções

vigorosas como o tempo


são rios que nasceram

no mesmo lugar

separaram-se em vários percursos

e agora estão a juntar-se novamente

rumo ao incógnito infinito


estão perto da foz

confiantes


é assim que tem de ser

(a caminho da Foz...há coincidências, sim...

uma pomba branca com flores muitas flores paira sobre nós, seus filhotes...)

-

um grande abraço, Carlos, pelo inspiração dos teus poemas)

terça-feira, 18 de agosto de 2020

coisas que vão ficando por aí...

agora

agora sem tempo
se não o podemos parar
um infinitésimo que seja

em que tempo estaremos
agora
não sabemos

tempo e espaço
do agora
continuamos sem perceber
como um e outro se movimentam
e interagem
com a energia da luz

e da força inimaginável
do electromagnetismo quântico


(coisas que vou escrevendo por aí…)
Jul2020

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

o enlevo da lua

nestes entardeceres
em dias de lua cheia
não consigo resistir
a tanta sedução

deixo-me enlevar

mas o senão
vem logo a seguir
sou assaltado pela nostalgia

sem perceber se sou mesmo eu
que olho a lua

afinal 
quem sou eu
não sei

um círculo vicioso
que começa no sol
que reflecte a sua luz
no meu olhar

o que sou eu 
não sei

(não sei se devia deixar aqui ou não...
na dúvida deixo...

segunda-feira, 29 de junho de 2020

hoje voltei a ver Deus (28-jun-2018)

(o algoritmo do FB lá terá a sua lógica para me lembrar que há 1 ano publiquei isto)

Hoje voltei a ver Deus
E ouvi-O também
No sítio do costume
No meu quintal

E dizemos coisas de cismar
Um ao outro
O vento na sua melodia intemporal
Acariciando o tempo

Estes momentos embora indefiníveis
São momentos infinitamente plenos
Duma melifluosidade muito para além

Daqueles em que as palavras
Se entrechocam umas com as outras
Incapazes de se ajustarem
De forma a que consigam transmitir
Aquilo que elas próprias
Não sabem definir
Mesmo que em cifras
Desdobrando-se nas suas sílabas
Tocando as suas próprias letras
Desconjuntadas ao sabor do vento
Que passa passa passa

O vento vento
O vento começa por levar as letras
E sem mais delongas
As sílabas
E as próprias palavras

Agora lá estão à vista
Naquele recanto do meu quintal
Duas papoilas espontâneas
No meio de outras coisas

E tudo isto só pode ser Deus

Impossível de descrever por palavras
talvez a Poesia o consiga
um dia

quinta-feira, 25 de junho de 2020

os pixels da nossa mente no universo




o SOL gira gira
oh sol sinto-me vivo
ao sentir o teu girar

que o teu olhar
se reflicta no nosso
e continuemos a girar

oh a girar e olhar
o futuro
com o fulgor da vida
plena
sem medo

desconfinadamente

milhões de pixels no universo
da nossa mente

ainda que saibamos
que não somos senão um
no universo

sexta-feira, 22 de maio de 2020


Ao captar uma perspectiva da torre de menagem do Castelo de Leiria (df 2.000 mm)

sentir o momento/tempo
numa inesperada perspectiva
é algo que não se explica

talvez seja este fascínio
que faz o fotógrafo
que também se julga poeta

mas que não consegue
senão interrogar-se

enquanto o tempo se dilui
nessa indefinível perspectiva!...

22maio2020
as-nunes

quarta-feira, 20 de maio de 2020

penso muito
talvez pense em demasia
penso que
existe em mim algo
demasiado indecifrável

mas penso também
que talvez seja melhor
não pensar demais
em tentar decifrar
o meu enigma

que se há-de resumir
no enigma do universo

e esse tem-se revelado
insondável

terça-feira, 12 de maio de 2020

parabéns ana

um dia cheio de luz
é como a Ana
tem de o sentir

pelo seu significado
e pela vida que continua

parabéns Ana

estes dias de calendário

são marcos indeléveis
que vão ficando
a marcar o nosso caminho

subtil
e matreiramente

mas nós gostamos
e agradecemos
o privilégio

maio2020, Leiria
(no aniversário da Ana C. Pascoal
instigação do ´facebook` ao assinalar 
o aniversário duma boa amiga)


quarta-feira, 6 de maio de 2020

25 abril 2020


os cravos no jardim continuam lindos vermelhos vivos a acenar-nos 

a incentivar-nos 

todavia o vermelho da rosa talvez deva também merecer a nossa melhor devoção 

muitos anos são passados 

desse 25 de abril de 1974 resta-nos a esperança sempre renovada que amanhã está tudo bem 

que a vida então prometida pelos homens da madrugada não será mais uma miragem com que a nossa sede tolda o horizonte 

que o vermelho do cravo se junte ao vermelho da rosa 

terça-feira, 5 de maio de 2020

das macieiras


eis que estamos chegados a um tempo muito especial 

é o tempo que voa nas flores e rebentos que desabrocham das macieiras 

e que prossegue o seu caminho passando pelas maçãs e pelas mãos 

e que nos apela à sabedoria e paciência de saber estar no mundo 

mesmo que na ignorância de que coisa seremos um dia 
  

domingo, 19 de abril de 2020

ruminar a mente



ruminar a mente

nestes tempos
dizem os novos deuses
aos homens

não saiam de casa
porque anda aí
um papão

e o homem
deixa-se invadir
pelo medo

para não ser
hospedeiro
dum vírus
que lhe pode
tapar a respiração

deixando que a morte
o leve
não se sabe como
nem para onde

afinal
o segredo
começa a desvendar-se

e a fábula
transforma-se na realidade
cruel

o homem é o papão

sexta-feira, 17 de abril de 2020

por que é que pensamos




à medida que o tempo
se movimenta no espaço
seria crível já sabermos
que pensamos

afinal nem sequer podemos afirmar
como sócrates
que só porque julgamos que pensamos
existimos

o que é a existência
senão uma manifestação
de que o tempo se confunde
com o espaço

afinal nem devemos aceitar
definitivamente
que existimos

pois se nem sequer sabemos
por que é que pensamos

quarta-feira, 1 de abril de 2020

https://dispersamente.blogspot.com/2020/04/carlos-lopes-pires-o-seu-26-livro.html

Hoje, fui ver o que o OneDrive da minha conta tinha armazenado, já que me estava a dar a mensagem de que estava cheio. Pus-me a verificar se podia apagar "tralha" para ficar com algum espaço para uma emergência. (há muita tralha, sim, porque o "OneDrive" suga e armazena tudo o que apanha no nosso computador. Ainda bem, porque há coisas que lá ficam e, mais tarde, nos espantam)...
Encontrei este meu texto (umas palavras que eu li, fez um ano, por altura do lançamento do 26º livro de poesia de Carlos Lopes Pires).
Penso que deve ficar registado neste eu blogue:

---

No lançamento do livro de Carlos Lopes Pires
“aquele que não ouvirás mais”.


De há uns tempos a esta parte, mais precisamente desde que nos conhecemos nos Serões Literários das Cortes, que tenho dado comigo a constatar que a poesia de Carlos Lopes Pires é, também para mim, algo de transcendente, que nos transmite uma sensação complexa de simplicidade com que devemos encarar os vários aspectos e momentos da nossa vida.
Ao lermos os seus poemas somos transportados para uma dimensão que não julgava tão acessível ao comum dos mortais.
Quando se fala de Poesia poderemos, talvez, encará-la sob três aspectos:
1) O autor, acima de tudo, escreve, observando regras quase matemáticas de métrica e rima;
2) O objectivo do que se escreve é passar uma mensagem de eloquência e de cultura primorosa em todas as áreas do saber e do estar, na literatura inclusive;
3) Um poema não tem de obedecer a nenhuma forma específica nem abordar temas e questões concretas, explicitando ao leitor o que se julga que ele deverá interpretar da linha de pensamento do seu autor.
Parece-me cristalino que a poesia de Carlos Lopes Pires só pode ser enquadrada no ponto 3 anterior, ainda que ele não precise que lhe seja atribuído nenhum rótulo. A Poesia para Carlos Pires é precisamente aquilo que nos tem deixado ao longo dos anos, e, particularmente neste seu 26º livro publicado, “aquele que não ouvirás mais”.
Não quero nem me devo alongar nesta minha singela intervenção, mas não podia deixar de referir aqui e agora dois pormenores decisivos que poderão justificar o tempo que vos estou a tomar.
Assim:
Todos nós temos altos e baixos no entusiasmo como encaramos a leitura e apreciação do que se vai escrevendo na área da Poesia. Acontece até que frequentemente nos inquirimos sobre o que é de facto a Poesia de que tanto se fala ultimamente. A verdade é que muito se está a escrever a pretexto de que se trata de poesia e ficamos naquela indecisão de sabermos se a poesia é ou poderá via a ser, algum dia, enquadrável num formato dito literário. Devemos integrar a Poesia na Literatura, nos precisos termos em que tradicionalmente esta se entrincheira?
É dos compêndios académicos e da tradição clássica que a poesia é a mais antiga das formas literárias. No entanto não será a Poesia muito mais que uma forma por que a Literatura se manifesta? Não deveremos nós alargar a ideia de Poesia para além do mero uso da palavra com que se constroem textos literários?
-
Está à vista de quem me estiver a ouvir que eu não sou a pessoa indicada para dissecar esta questão.
Permitam-me, no entanto, evocar algumas reflexões que o nosso querido amigo e poeta Carlos Pires já deixou escritas e à nossa disposição.
Diz Carlos Pires num seu texto de 2017 acerca de Poesia, começando pelo título: Poesia: a revelação iluminada.
Prosseguindo: “A poesia diz o que não pode ser dito, revela o segredo e, embora este escape, a poesia  deixa no Mundo e no Outro a marca desse segredo e desse mistério.”
“Por ser um olhar de espanto iluminado ele é e traduz no poeta esse estado de encantamento, talvez de epifania ou simplesmente de revelação iluminada. É por isso que toda a poesia tende para o misticismo (ou religiosidade ou transcendência). Em grande medida creio que a poesia pode ser entendida como um diálogo, uma ligação com o Universo.”

Há que ler com atenção este texto.

Tenho que o dizer agora, não me considero um poeta na acepção tradicional/convencional do termo, mas estou a dar comigo a ensaiar a escrita de poesia – pretensiosamente, talvez – sentindo que a mensagem de Carlos Lopes Pires me está a cativar sobremaneira.
O seu estilo e forma de encarar o Homem/Natureza integrado no todo Universal estão a conseguir ser, para mim, como que uma trave mestra do edifício poético que eu imagino.
Por isso mesmo já me habituei a admitir a sua dimensão de Mestre e a minha qualidade de mero discípulo aprendiz.

Era só isto que eu queria dizer, que me sinto como que a palmilhar a luz rumo ao indefinido e com a intenção de aproveitar os anos que me poderão restar de ser terrestre para continuar com os meus ensaios poéticos nas abertas do tempo e do espaço em que me for possível situar.

Obrigado, Carlos, pela Mensagem que nos estás a conseguir transmitir duma forma decidida e contundente sob o rótulo da complexa e aparente brevidade do teu discurso poético.

Leiria, Museu do Papel e/ou Casa do Zé-Pato (S. Romão), em 23 de Março de 2019
António d´Almeida Nunes

sábado, 28 de março de 2020

A vida muito para além do Coronavírus

Muito para além do Coronavírus 2019

nestes tempos
há quem sente
que deve rezar
não com santinhos na mão
antes olhando os pássaros
e a sua maneira singela
de viver

e como é serena
alegre e despreocupada

vivem sabendo que o homem
não pode alcançá-los

quem me dera saber
onde aquele pássaro
passa a noite

A Nunes
26-03-2020

alguns de nós

 

ALGUNS DE NÓS

 
há dias que ele 
baila na minha mente 
 
diz-me que é um poema 
e que tem em si 
muitos outros 
que se estão a enredar 
numa teia intrincada 
e infindável 
 
pergunto-lhe 
a razão da sua persistência 
decidido que parece 
em se mostrar por mim 
(numa ínfima parte, embora) 
 
que alguns de nós 
têm uma missão 
a de mostrar as coisas 
simples 
que juntas e em harmonia 
são o universo 
 
mas porquê eu 
quando eu próprio 
me sinto infinitamente 
ignorante 
 
porque tu não cortas 
uma rosa 


a d´almeida nunes

fev2020

domingo, 22 de março de 2020

que provação é esta?!



 (quem sou eu?! Não sei exactamente, só sei que sou demasiado ignorante para poder ter certezas. Aquilo que digo ou que escrevo não é mais que a minha percepção das coisas no momento do poema. E o poema é muito simplesmente uma forma de eu tentar conversar com o universo, ele próprio…)
-
que provação é esta?!

parece que já vivi uma vida
que já sabia tudo da vida
regressei a casa e faz-me tanta pena
não posso ouvir outras vozes
não posso sentir outras presenças

como a casa mudou tanto
os próprios vizinhos só os vejo
à janela e do lado de lá
do quintal

os tempos são de isolamento social
para que possamos continuar a respirar
e interrogamo-nos
quando e se
voltaremos a ser
eminentemente sociais

antónio d´almeida nunes – 22-03-2020
 (tinha acabado de ler o mais aclamado poeta chinês de sempre
Tao Ch´ien, que viveu entre 618-907)

quinta-feira, 19 de março de 2020

olhemos o mundo à nossa volta



olhemos o mundo à nossa volta

um casal de pintassilgos
bebe água
no bebedouro do quintal

enquanto o homem
bebe todas as notícias
que brotam
vindas de onde vierem

os pintassilgos
mantêm-se imperturbáveis
na missão de vida
que lhes foi destinada

enquanto o homem
se declara
em estado de emergência
numa luta inesperada mas previsível
contra inimigos invisíveis

e usa todas as lanças
de que dispõe
na esperança de
que será capaz
de fazer parar o vento

nem que seja
só até nova tempestade

(e assim o homem reaprendeu a rezar...)
ada-18-03-2020

quinta-feira, 12 de março de 2020

os pardais de telhado


os pardais de telhado

hoje de manhã
vi-os a voar no quintal
felizes e descontraídos
indiferentes a quarentenas

(coisas de humanos
que não lhes mudam
a sua predisposição genética)

o tempo é de primavera
de recomeço dum novo ciclo de vida

coisas de pássaros
que não precisam de se atropelar
a fazer filas nos supermercados

só precisam de telhados
e árvores

e terra para esgaravatar

ada 12-03-2020
lourais-barreira-portugal

os pardais de telhado

 

OS PARDAIS DE TELHADO

hoje de manhã
vi-os a voar no quintal
felizes e descontraídos
indiferentes a quarentenas

(coisas de humanos
que não lhes mudam
a sua predisposição genética)

o tempo é de primavera
de recomeço dum novo ciclo de vida

coisas de pássaros
que não precisam de se atropelar
a fazer filas nos supermercados

só precisam de telhados
e árvores

e terra para esgaravatar

a d´almeida nunes
12-03-2020
lourais-barreira-portugal



terça-feira, 10 de março de 2020

o tempo é que tem tempo



Há daquelas fotografias
que nos mostram coisas
do remoto passado tempo
daquele tempo doutros tempos
daquele tempo em que éramos jovens

do mesmo tempo
em que agora
é tempo dos nossos netos

mas ao mesmo tempo
continua a ser o nosso tempo

afinal
o tempo é que tem tempo
para tudo

olhar-te no espelho
Oh tempo
deixa-nos a meditar

às vezes a sorrir

admiramo-nos de sermos tão ignorantes



neste preciso momento em que me sento à secretária
é uma e meia da manhã deste mês de março de 2020

há já vários meses que estamos confrontados com a activação dum coronavírus
que ataca as células do corpo humano
e o desorganiza

mas que talvez consiga que o homem
se solidarize numa luta global e inesperadamente humanitária

apresenta-se medonho
amedronta o mundo
e obriga os homens a tomarem medidas drásticas
que afectam implacavelmente
o desenvolvimento da economia

expectantes quanto ao rumo que esse vírus irá decidir
o homem atónito
tenta descobrir um seu antídoto

entretanto
toda a sua ciência tarda em acertar
sobre se será possível eliminá-lo

afinal as coisas vivas
são muito mais complexas
e mais fora do alcance da mente humana
do que demasiadas vezes julgamos ser sabedores

admiramo-nos de sermos tão ignorantes
quando tanto julgamos saber

não estamos a conseguir chegar ao conhecimento da origem das coisas
que são o mundo

e não sabemos se algum dia saberemos


   

quinta-feira, 5 de março de 2020

cruzar o tempo


os anos cruzam o tempo

talvez sejam ondas do mar
no seu eterno movimento

nós nelas a vogar irrequietos
fingindo que somos gaivotas

talvez na esperança vã
de que ainda vamos poder
voar

contra ventos e tempestades
apocalípticas que sejam

5mar2020
a d´almeida nunes
(escrever numa folha cheia de números)