terça-feira, 22 de junho de 2021

vai ser difícil voltar àquela casa


vai ser difícil voltar àquela casa

ser recebido por aquela roseira 
que não me vai saudar da mesma maneira  
porventura nem terá rosas               então 
daquelas com que éramos recebidos 
quando íamos ao casal   

são umas rosas rosa  
com muitas coisas na memória  
histórias muito antigas 
(recontadas serões sem conta à volta do fogo) 

e outras que tão bem sabiam cantar 

canções de aleluia 
das noites de maio 
do são salvador do mundo 
os fados da Amália
  
aquela roseira lá está                      ainda 
lá ficará tempo de saudade 

  

20-06-2021   

sábado, 19 de junho de 2021

poesia é também

 

poesia é           também
amanhecer com nuvens
temperaturas de quase verão

mais um mês de junho
um dos muitos que já passaram
pelo calendário

esperar pelo sol

saber que a vida é um pássaro
a saltitar freneticamente

acreditar que existo


leiria, 16jun2021

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Eu (nós)

 
Eu (nós)
.
enquanto nos podemos tocar
e sonhamos no ser que somos
acompanhados pelo não estar
que não conseguimos admitir
que possa ser nada
 
recapitulamos os setenta e tal
anos
em que temos viajado à volta do sol
e constatamos que há
um desaparecimento constante
.
tentamos recuperar
não sabemos se o chorar
se o que de nós vai soçobrando
.
e vemos sentimos
que afinal também nós
envelhecemos
.
não eram só os nossos avós
os nossos pais tios primos amigos
os que nos habituámos a ver
na televisão
que envelhecem e desaparecem
.
eis que ouvimos uma voz a dizer-nos
que os anos sessenta já acabaram
.
nunca saberemos quem somos
nem o que poderíamos vir a ser
.
Oh afinal estou mesmo quase velho

(in "notícias de colmeias" - julho2021)

sexta-feira, 4 de junho de 2021

até nos sumirmos no finito

o tempo das flores
no meu jardimquintal 
é o tempo em que a vida 
passa em silêncio
 
é o mês de junho 
a deixar-nos a sua mensagem 
onírica 
a lembrar que o tempo 
é uma canção 
que se ouve vezes sem conta 

e que nos lembra 
que nós somos flores 
que se transformam em frutos 
até nos sumirmos no finito