sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

sou uma pedra


a um seixo granítico
(na ribeira de Rossim - Sª da Estrela)

sou uma pedra
resultado da fusão
de átomos de quartzo
feldspato e mica

tempo sem fim
rolada no leito vertiginoso
duma ribeira da serra

agora um seixo
burilado pelo tempo
chuva vento calor frio
água em torrentes

tempo tempo tempo

tanta história
tantas estórias
que tenho para contar

escutem
o meu silêncio

a d'almeida nunes
(pp daquela pedra)
dez2019 - 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Prece ao ano novo





Prece ao Ano Novo

O tempo virou outra página
parecendo querer mostrar-nos
a realidade. 


Só que esta não é o que parece.

Alguns filósofos
já nos andam a dizer isso
há muito tempo.
Mas muitos de nós
desconfiamos da filosofia.

Então que conseguiremos ler
nessa nova página? 

Mais um aviso
de que estamos a envelhecer?

Mais uma lição
para a juventude?

E nós que desejamos?:
Ser diferentes do que somos?!
Querer coisas?!

Que Deus me deixe ser eu…

Até àquela cruz no calendário!...

a  d´almeida nunes
03-01-2020 - Lourais

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020


às vezes confundo-me
vejo coisas para além
mas não sei dizer o que é


que dizer
acerca das coisas
que os nossos olhos
julgam que veem?


tanta coisa
quantos mundos!...


queria dizer algo mais
não encontro palavras


talvez amanhã 
seja outro dia!

por quê dizer o que não disse?!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

sabedoria suprema



tempo que devia ser
de frio cortante
nesta serra
às vezes nevada

manhã de sol vigoroso
a romper pelos cumes

muita água
a correr cristalina
numa azáfama eterna
de levar vida
e de brincar com as pedras
do leito dos seus rios
levadas e lagos
e fragas
com que a gravidade
salpica as veredas íngremes

seixos que cantam
e dançam
quais maestros
de pastores e pássaros

aqui andou Viriato
aqui se manifesta
imponente
a sabedoria suprema
do maestro cósmico...


Serra da Estrela, Natal de 2019
a d'almeida nunes

sábado, 28 de dezembro de 2019




apertou-se-me um nó
na garganta
não me senti à altura
de tamanha dimensão

Deus olhou-me

estava triste por mim
e senti que Ele
tinha razão
que não posso desmerecer
do privilégio de ser
sua parte
é que sou-o
e Ele é tudo


a d´almeida nunes
Ao Piódão e toda a Serra da Estrela
28-12-2019




quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

tarde em fim



sobe-se
à senhora do monte


tarde em fim

depois da tempestade
eis a bonança


sente-se o Natal

uma força inaudita
instala-se 


por todo o lado

mesmo que muitos digam
que não

a d'almeida nunes
24 Dezembro 2019
Leiria-Portugal

Mais um Natal e tudo continua na mesma




Naquele tempo
já havia Deus


eis que nasce um menino
que deveria ser
o salvador
do mundo


o homem
assim não o entendeu

por quê, Deus?!

a d´almeida nunes
24dez2019

domingo, 22 de dezembro de 2019

não vejo saída
para o caminho
que tenho vindo
a trilhar

talvez mudando de rumo

regressar  à simplicidade
daquilo que vemos
quando olhamos

sem preocupações
de saber o porquê
das coisas

talvez não seja necessário
mortificar-me
nessa demanda desumana
de compreender
as coisas

talvez só olhar
e ser capaz
de falar com as coisas

sejam infinitamente
grandes ou pequenas

e humanas
simplesmente

fazer desta filosofia
a  poesia que é
tudo o que consigo ver
e pressentir...

simplesmente...

a d' almeida nunes
21dez19 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

para ti, mãe (maria da encarnação d´almeida)




para ti, mãe
(maria da encarnação d´almeida)

é frequente reflectir
sobre o que pretendo
quando escrevo

será que tenho algo 
de interesse
para os leitores
que não só eu?!

e se assim não for
por quê escrever?!

afinal 
dou comigo a escrever
agora

para quê?!
para quem?!

porque sim
para mim
para a minha mãe


a d´almeida nunes
16dez2019



sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Para a Zaida (na morte de sua mãe)



Para a Zaida
(a sua mãe tinha acabado de morrer aos 99 anos)

houve momentos
de adeus esvoaçados
talvez a sinalizar
o regresso migratório
do pássaro pousado
no seu coração

até que esse pássaro
levantou voo

rumo a perder de vista

a d´almeida nunes
(comentário no blogue de Carlos Pires)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

devo resignar-me ?!




devo resignar-me
ao determinado
pelos desígnios
da harmonia do universo ?!

devo esperar humildemente
o fim

lentamente passa o tempo
o fim do outono está aí

devo gozar o dia que passa

a d´almeida nunes

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

À amizade pura




Enquanto a chuva
tocada a vento oeste
bate nas persianas corridas
e é noite lá fora

Não quero
deixar que o sono
me feche os olhos
antes de saudar
uns amigos
que são mais que isso

São irmãos do coração
de darem as mãos
e comerem do mesmo prato

Uma vez por mês
ao menos
vestem-se a rigor
e falam de coisas do mundo
enquanto conseguem
brincar com outras coisas
igualmente sérias

E rezamos rezamos rezamos

a d´almeida nunes
22nov2019

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

que fascínio é este?!



a vida 
já me mostrou muitas fontes

já voei com os pássaros
já me inebriei com as flores
já senti a magia dos rios

já fui absorvido
pelo calor fulgurante 
da fusão 
dos átomos dos corpos

estará a poesia
para além da harmonia
da tríade 
sonho, lucidez e vida?

que fascínio é este
que me transporta
no tempo 
para um espaço 
entre vazios?!

a d´almeida nunes

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Somos no mundo




Somos no mundo


O meu Olhar pela janela
manifesta-se presente
enquanto ELE também

Uma rosa sombreada
na brancura daquele muro branco
Pássaros espreguiçam-se em chilreios
O ar imóvel expectante
petrificado no momento

Deus Deus Deus
Aquela rosa
Este amanhecer suave
A chuva em pingos

A alegria de ouvir
o tagarelar dos netos


a d´almeida nunes
Lourais,  6-11-2019





terça-feira, 5 de novembro de 2019

aquela rosa naquele muro




mãe sempre

aquela roseira
aquele muro
agora

aquela parreira
aquele muro
outrora

a minha mãe
desorientada
perdida no seu eu

a minha avó
a tia céu
a nevitas

os tios 
em debandada
geral

o meu pai
em missão de sempre
da vontade
agora

aqui estou eu


a d´almeida nunes
nov 2019 - Lourais (e também no Casal)


quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Homo algoritmo vs Homo Deus



Homo algoritmo vs Homo Deus


o tempo quente e seco parece interminável
entrámos pelo outono dentro
e só a muito custo
o vento sul se está a mostrar:

chuva miudinha
espaçada e rala

o planeta Terra
rebela-se 
em várias dimensões

a inteligência do homem
continua a revelar-se insuficiente

e o homem começa a apelar
na opção de se substituir a Deus
ao poder incomensurável
do algoritmo

entrámos numa encruzilhada



a d´almeida nunes
outono 2019






quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O patitas é um(o) poema




para um amigo especial
em tempo de memorar o patitas
(que só conheci pelos poemas de carlos lopes pires)


junto àquelas hortênsias
azuis
germinam espinafres
alinhados a rego

enquanto

sob o mesmo sol
o patitas
deixa saudades

em poemas
escritos com flores

a d´almeida nunes
23/24 out2019


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

o que estou a fazer?




já vislumbro um novo dia
no fundo desta noite

o que estou a fazer
não é mais do que deixar passar os anos

não posso crer que é para isto
que estamos predestinados
para fingirmos que vivemos
sem sabermos o que é viver

talvez ocorram milagres
mas como seria 
se um dia ouvisse uma voz
que transportasse luz
e me dissesse 
que eu sou o ar e não eu?

e cá continuo
à espera dessa voz
que me diga como foi possível
eu ter deixado passar os anos

sem que ao mesmo tempo
me pergunte o que desejo 

a d´almeida nunes
18-10-2019


Onde estou eu?





já tenho setenta e dois anos
tantos quantos os ciclos solares
que me têm transformado
naquilo que sou

e que me têm transportado
até ao sítio onde estou

continuo
cada momento que passa
com mais dúvidas

o que sou eu?!
onde estou?!

a d´almeida nunes
18-10-2019




ps.: cá volto a este sítio. Afinal, entretanto, estive ausente desde 2012! ...
Tenho andado pelo meu blogue-guia (auxiliar de memória) DISPERSAMENTE

quinta-feira, 28 de março de 2019

enquanto o tempo voa

 ENQUANTO O TEMPO VOA 

  
ao ritmo dos pássaros 
ao sabor das ondas 
        [sob o olhar penetrante dos peixes 
no movimento imperceptível 
        [da Areia Branca da praia 
e na força incrível  
        [que advirá da fusão 
        [dos átomos da rocha 
 

extasiamo-nos 
até ao azul do horizonte 
com o que conseguimos 
ver 
 
quem seríamos nós 
se víssemos para além 
do que vemos¿! 
 

 
28mar19  
Areia Branca-Lourinhã 
(com o pensamento também na família Vasconcelos) 

 : 

a d`almeida nunes 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

a poesia é d´ouro

 (para o Carlos Pires e aqueles outros 4 amigos que nós sabemos) 

(comovido/emocionado com o poema-prenda evocativa do 5 de Outubro de 2018) 

  

  

a poesia é das coisas boas 

que o homem pode usar 

e com ela  

muito simplesmente 

oferecer uma rosa aos amigos 

  

em momentos de vida 

determinados ou não 

  

por isso mesmo 

ficamos-te muito gratos 

por esta tua prenda 

  

das melhores  

que se podem receber 

  

em qualquer altura 

  

oh mas esta data 

talvez por já a termos  

interiorizado como marcante 

é uma das que se nos gravam 

no coração 

  

e queremos que fique esculpida 

para todo o sempre 

numa daquelas pedrinhas 

que encontrámos 

no nosso caminho 

  

a guardámos religiosamente 

  

e a conseguimos dourar 

  


a d´Almeida Nunes 

(Por mim e pela Zaida 

1968-2018)

: 

a d`almeida nunes