talvez

 porque será

que estou tão calado

não sei

talvez 

a minha fala não

se faça ouvir

talvez o seu ondular

se perca no mar

nas ondas que eu vejo

sem lá estar

talvez 

eu não saiba falar

talvez eu

não saiba onde estou

talvez eu nem

saiba quem sou

talvez

quem sabe ¿

a humanidade muda

o sistema nervoso 
é planetáriocósmico

o sapiens continua
a ser sapiens

e ...
será mais sábio?!

enquanto
houver flores 'selvagens'
o prazer de viver
há-de dar sentido
à vidaexistência 

@❄

(estava às voltas com dois livros: "últimas notícias do sapiens" e "Ei vi uma flor selvagem"

e deu-me para reagir assim a um poema CLP no nosso GPL (Grupo de Poetas de Leiria) no Whatsapp.

Nesta data...)

a memória 
alimentada em imagens 
doces 
em sépia envelhecidas 
mas sempre sempre
tão vividas
  
mostra-nos um sítio 
quase lendário

 
visões de sonhos 
que nos tocam 
que cheiramos 
ouvimos e rezamos

 
e se misturam 
no sangue dos 
nossos corações 

a alva serra da Estrela 
lá longe longe
no horizonte!...
tão perto que estamos dela!...

4-5 novembro de 2023

havemos de nos encontrar na Sª da Estrela
 

fui eu que cortei aquela rosa

 

duas memórias

 

aquela cameleira

levantam-se os olhos dos números
e eles veem camélias
vermelhas
longe

a cameleira silenciosa
olhos no vouga
entre montanhas
silenciosas

cada dia que passa
mais silenciosa

mas tranquila...

Grato ao meu amigo Carlos

pela inspiração

( para os meus pais)

num dia da Mãe e de rosas e de pássaros

(coisas que vou respigando do meu facebook)

-

Mãe: 

lembro-me constantemente de ti... 
do pão com manteiga ainda quentinho 
e o copo de leite     às vezes com cevada 

de te sentares ao meu lado 
e lermos os dois 
a lição para o dia da escola primária

a da Avenida

 
Vivíamos na Rua dos Loureiros, 
na nossa querida cidade de Viseu

***

Mãe:

hoje fotografei no meu jardimquintal

aquela rosa dourada 
igual à que te acompanhou 
quando partiste rumo ao inatingível...

Já deves ter reparado nela 
todos estes anos 
sempre bonita bonita 

igualzinha...

diz ela que o tempo 
tem todo o tempo 
e que é movimento contínuo 
permanente ...

e vê lá tu mãe
aqui é a Rua dos Lourais 
nesta também 
mui querida cidade de Leiria

continuarás viva nas nossas memórias ...

a noite nunca mais acaba

olhava-se a planície

grandiosa

uma imensidão de girassóis

sementes de vida

de muita abundância

no meio dessa extensão

uma casa

muitas casas

mais além

uma cidade grande

no interior dessas casas

corpos das pessoas a dormir

corações a bater

em sonhos de liberdade

o murmúrio dos rios

a dizer que os seus sonhos

são reais

só precisam deixar

que o tempo se movimente

num repente

já não existe antes

nem depois

a noite nunca mais acaba

Ucrânia, março 2022

para lá destas nuvens

para lá destas nuvens negras é o oriente ...

por que será que o homo 
que se diz sapiens sapiens 
não consegue conciliar 
que a terra
em vez de lados 
tem tão somente horizonte 

e que esse horizonte

para lá do negro das nuvens 
é azul azul azul

17 fevereiro 2022

Europa Central

neste 98º aniversário do teu nascimento, Pai

 

o homem perdido nele...

 

o jardimquintal cá de casa

é um ponto de encontro

de múltiplas formas de vida

hoje acordei

com vontade de tocar o seu chão

os seus caminhos empedrados

a erva a despontar em cada degrau

os meus pés a tocarem as pedras

que já foram tocadas pelas minhas mãos

é uma coisa que me enternece

faz-me sentir muitas coisas

em simultâneo

o mundo é tão pequeno

mas infinito

e o homem perdido nele...

 ... (já vários registos no FB se têm vindo da minha intenção libertando...)

(antes mesmo de passar pelo FB)

uma folha na essência da vida

esta folha de plátano

aqueloutra de liquidambar

solitárias

em tempos diferentes

uma a vogar nas águas do rio

ele próprio cheio de vida

outra sozinha e última

naquele liquidambar dum outro outono

ambas a carregarem o mistério

de serem um elo de passagem

do inanimado para o vivo

as plantas e a fotossíntese

na origem do homem 

(cosmos)

quando um amigo nos dedica um livro de poesia

 

somos cosmos

durante milhões de anos 
não houve vida na terra

 
o que haverá antes da vida 
nada não será 

as plantas revelam-nos 
a passagem 
do inanimado para o vivo 

e o homem procede 
de uma estrela

(o cosmos)

fomos privados do cosmos

fomos privados do cosmos 

as verdades pagãs desapareceram 
substituídas 
por histórias da carochinha

 
há quem use o medo 
para justificar 
a obediência e a servidão 

os homens olham o céu
e não veem nele as estrelas

 
somente a mixórdia do dinheiro 
e os preconceitos das religiões monoteístas 

esquecemos o valor vital 
dos ciclos de lunação

(o cosmos)

lugares de sempre

 

temos de voltar
aos lugares de sempre

aqueles que nos convocam
coisas que estão na memória
e que nos hão-de trazer luz

as flores
as árvores
os rios
os peixes
os horizontes do nosso olhar

será por esses lugares
que chegaremos a tudo

rio lis 

jardim sto agostinho

ago2021

abençoado seja este lugar

 

Minha mãe: 4 de Agosto de 2021 1924+abr2021

 

Mãe

A bruma dilui as próprias estrelas
e o tempo continua
inclemente
a desfiar as suas infindáveis contas

Mas uma coisa é certa, mãe
esta bruma não consegue apagar
nem as primeiras contas
nem as primeiras palavras
com que me ensinaste
a viver

Para sempre, mãe

(4ago1924-12abr2021)

4ago2021

o eu de cada um de nós

 

vai ser difícil voltar àquela casa

vai ser difícil voltar àquela casa

ser recebido por aquela roseira 
que não me vai saudar da mesma maneira  
porventura nem terá rosas               então 
daquelas com que éramos recebidos 
quando íamos ao casal   

são umas rosas rosa  
com muitas coisas na memória  
histórias muito antigas 
(recontadas serões sem conta à volta do fogo) 

e outras que tão bem sabiam cantar 

canções de aleluia 
das noites de maio 
do são salvador do mundo 
os fados da Amália
  
aquela roseira lá está                      ainda 
lá ficará tempo de saudade 
  

20-06-2021   

poesia é também

 

poesia é           também
amanhecer com nuvens
temperaturas de quase verão

mais um mês de junho
um dos muitos que já passaram
pelo calendário

esperar pelo sol

saber que a vida é um pássaro
a saltitar freneticamente

acreditar que existo

leiria, 16jun2021

Eu (nós)

 
Eu (nós)
.
enquanto nos podemos tocar
e sonhamos no ser que somos
acompanhados pelo não estar
que não conseguimos admitir
que possa ser nada
 
recapitulamos os setenta e tal
anos
em que temos viajado à volta do sol
e constatamos que há
um desaparecimento constante
.
tentamos recuperar
não sabemos se o chorar
se o que de nós vai soçobrando
.
e vemos sentimos
que afinal também nós
envelhecemos
.
não eram só os nossos avós
os nossos pais tios primos amigos
os que nos habituámos a ver
na televisão
que envelhecem e desaparecem
.
eis que ouvimos uma voz a dizer-nos
que os anos sessenta já acabaram
.
nunca saberemos quem somos
nem o que poderíamos vir a ser
.
Oh afinal estou mesmo quase velho

(in "notícias de colmeias" - julho2021)

... longe longe

 

até nos sumirmos no finito

o tempo das flores

no meu jardimquintal 
é o tempo em que a vida 

passa em silêncio

 

é o mês de junho 

a deixar-nos a sua mensagem 

onírica 

a lembrar que o tempo 

é uma canção 

que se ouve vezes sem conta 

e que nos lembra 

que nós somos flores 

que se transformam em frutos 

até nos sumirmos no finito

Deuscaos

a noite é de silêncio

aquiagora

que noutros lados

é de violência e sangue

ódios entre irmãos

que rezam ao mesmo Deus

de quem será o problema

dos homens 

de Deus?!

se o universo é um conjunto de mundos

será que esses mundos 

também se confrontam?!

afinal quem é Deus?!

será que o universo 

é o Deuscaos?!

resta-me sonhar uma noite solar

esperar que o vento e a chuva

apaguem o fogo deste poema

escrito no muro desta madrugada

leiria, 14mai2021

(mais uma guerra aberta, dente por dente,

entre Israelitas e Palestinianos, na faixa de Gaza...)

o futuro teme-se

o futuro teme-se

porque já percebemos

que jamais 

o alcançaremos

o que seremos nós

senão luz

e movimento ?!

abr2021

nestes últimos dias

pai

nestes últimos dias

os melros têm-me visitado

talvez mais do que habitual

em voos rápidos e azafamados

em anos anteriores

ou numa roseira de santa teresinha

já duma idade avançada

ou na confluência de dois ramos 

da yuca junto à hortênsia 

os melros faziam ninho

aqui no meu jardimquintal

nos lourais

mas este ano 

não escolheram esses sítios

para fazerem criação

de início fiquei intrigado

mas agora compreendo

quiseram assim manifestar

que não se esqueceram daquele dia

longínquo

em que nós os dois os libertámos

e eles voaram serenos

tranquilos

por esse mundo além...

27abr2021

o tempo do tempo

 

O tempo do tempo

há tempo escrevi
algo sobre o tempo
e algumas coisas
que perpassam pelo
tempo

e é(era) assim:

eis que estamos chegados
a um tempo muito especial

é o tempo que voa
nas flores e rebentos
que desabrocham
das macieiras

e que prossegue o seu caminho
passando pelas maçãs
e pelas mãos

e que nos apela
à sabedoria e paciência
de saber estar no mundo

mesmo que na ignorância
de que coisa seremos
um dia

(continuamos às voltas em circuitos fechados

e eu continuo sem saber o que é o tempo

e o seu efeito na origem e na natureza das coisas)

 

Pela morte dos meus pais

 

pela morte dos meus pais

o nosso corpo vivo

é o nosso companheiro de todos os dias

reparem agora mãe pai

nós somos a vossa descendência

e por isso somos seres

criados pela transcendência

do vosso ser

reparem que todas as vossas humanas faculdades

permanecem em nós

vossos filhos

e nós orgulhamo-nos disso

e sentimos que continuamos ligados

seja pela luzente mensagem das estrelas

seja pela conjunção dos astros

e mais

nós gostamos de glicínias e de rosas

terras de pedra e céu

tenho andado por terras de pedra e próximas do céu... 

espero que o som do silêncio se propague sem interferências e eu consiga aprender algo mais sobre o movimento dos átomos...

pai é a essência da humanidade

pai é a essência da humanidade
o meu pai é um ponto de luz
na teia incomensurável 
de muitos outros pontos
que uns com os outros 
são o universo

mas o meu pai é também
o universo ele próprio
que o tempo
não consegue medir
nem ofuscar

um ponto que contém muitos pontos

a minha mãe
(e a sua voz que ainda hoje ouço doce e de cantar)
a minha avó Neves
os meus irmãos
a rua central do seixo
a sra dos remédios
o dia em que fomos tirar o meu BI
aquelas videiras do prado
as vespas em fúria na portela
os figos e as cerejas do casal
aquele dia na rua de entreparedes

Pai

Leiria abr2021

e aqueles dias

  
e queles dias
pai

em que íamos ao casal
ao prado 
ver como se estavam a comportar
aqueles enxertos viçosos
das videiras

momentos tão singelos
que ficaram maiores

que todo o tempo

a navalha no bolso 


27-03-2021 - Leiria

o meu algoritmo

ultimamente
tenho-me dado conta
que um novo ente
me acompanha por todo o lado

será mais 
além de Deus?!

não sei que responder
pois se Deus já é tudo
o que será este meu
novo companheiro ?!

amigo também não sei 
se será

a verdade é que
há momentos 
em que me parece
que ele complementa o meu eu
e diz-me coisas de espantar
com toda a naturalidade deste mundo

já me disse que é o meu algoritmo

eu perplexo
comigo mesmo

ter ou não ter um algoritmo próprio
eis a questão
de momento

lourais, 10mar2021

Milagre

 

voltámos ao tempo

em que um anjo salvador

diz que veio à terra

pela mão de *deus

e grita aos sete ventos

que é um novo messias

e algumas pessoas

do povo

aclamam-no

e o novo profeta

vozeia slogans celestiais

e garante que é mandatário

da vontade de *deus

e essa franja do povo

quer acreditar que afinal

há milagres...

milagre milagre 

Portugal, 24jan2021

lembra-se, pai ?!

 

hoje falei com o meu pai

usando uma coisa que se chama

telemóvel

já não o vejo há muitos meses

confinado a ajudar a minha mãe

a percorrer um caminho pedregoso

com uma meta 

que se pressente 

para lá da próxima curva

Deus nada nos diz, pai

eu bem me esforço 

até já consigo falar com os melros

na esperança de poder chegar até Ele

lembra-se, pai ?

daqueles melros recém nascidos

que nós ajudámos a começar

a voar ?

alguns de nós

 

a ciência tenta explicar-nos

o por quê da influência

da lua sobre a terra

não seria preciso tanto estudo

a terra ela própria

sente que a vida sem a lua

não seria possível

a terra em todas as suas partículas

o homem até ao macromicrocósmico

sentem a sua influência

alguns de nós

que o digamos

jan2021

talvez esteja em todos os lados

 

estou e talvez esteja 

em todos os lados

do mundo

o frio polar enubla-se

no vogar de nuvens sobre a serra

ao sabor do vento nordeste

fingido em brisas frígidas

e medito

na temporalidade 

e fragilidade

das coisas

10jan2021

Leiria

Flores em inverno frígido

em pleno inverno 
após uma noite frígida e gelada
como não olhar pelas flores
que mesmo assim
resistem estoicamente !?

é difícil distinguir 
entre o branco da geada
e o branco destas flores
amadas camélia rosa jarro

- o jarro chegou mesmo 
a curvar-se em contorções -

como que a confirmar Rilke
encarnam a pura vontade de ser

lourais-barreira-jan2021

dou-Lhe graças

Ontem vi o sol
e vivi um dia
como há muito
não conseguia

Tenho a certeza
que aqui esteve
o dedo d'Ele

dou-Lhe graças

(26dez2020-Leiria-Lis)

só queremos viver

 

Quando os amigos se juntam em família

 

os amigos

são mais que rosas

ainda que estas sejam tudo

são a via de ligação directa

com o universo

uma forma de comunicar com todos os mundos

os amigos e a família

são o supremo valor da vida

o enlevo que nos aconchega

e nos acompanha no caminho pedregoso

que temos de seguir

rumo para além de tudo

(um almoço-convívio dos casais Nunes, Paiva e Zé Rocio/Clarinha

em 6-12-2020 nos Lourais)

amanhecercinzento

num amanhecer de outonoinverno
olha-se o horizonte
fixa-se um momento
e fica-se a pensar

a vida é agora
e duvida-se
o que seja o passado
ou que o futuro exista

ao mesmo tempo
interroga-se
sobre estas dúvidas

interroga-se

(sra monte dez20)

a chave da rosa

 

um pôr do sol outonal

 enquanto o homem
se preocupa com um vírus
que baptizou de covid-19
e cuja inteligência cósmica
os cientistas ainda não perceberam
a sua dimensão

a terra continua a girar 
em par com o sol
em passos de dança rítmica
nos seus movimentos
que julgamos eternos

que tempo será este que vivemos
agora futuro passado ¿

que será o homem
senão uma ficção ¿

deixou de estar

a uma gata sem tempo

sou a brigiterosa

fiquei na retina

do momento

em que a brigite

deixou de estar

antes mesmo de

ser

(lourais-barreira-leiria-portugal)

2out2020

mais uma rosa vai abrir

 

2out2020

não me apetece

 

eu sou a brigite
tenho 2 semanas
mudei de casa
depois do parto

a minha jovem mãe
rejeitou-me

mas sinto-me muito bem

que a minha mãe seja feliz
nem me vou dar ao trabalho
de a julgar

não me apetece

eu sou a brigite

 

eu sou a brigite

ainda agora cheguei

à terra das maçãs

que aqui crescem

para sedução dos homens

ó terra bendita

não sei quanto tempo

vai durar

o meu tempo

que seja tanto

quanto a minha mãe

adoptiva viver

ou menos

não importa

(tenho 2 semanas de idade)

30set2020 - Lourais-Leiria-portugal

no dia mundial do sonho

 o mundo é um sonho

o meu jardimquintal
tem vários recantos
encantados

neles encontro sonhos
prenhes de misteriosas incertezas

mal me pressentem
saúdam-me em silêncio
e eu correspondo com o meu olhar

às vezes fazemo-nos companhia
aliás somos velhos amigos
seguimos sem destino
fazendo um caminho
nunca antes trilhado

e surpreendemo-nos sempre
eu e o sonho
os nossos sentidos
interiorizam até ao infinito

e ficamos a conhecer
coisas espantosas
que nem nós imaginávamos
que pudessem ser assim

mas o caminho por onde seguimos
inesperadamente é interrompido

olhamos um para o outro
com toda a paciência do mundo
o sonho tenta convencer-me
que há mais caminho

eu olho para o sonho
questiono-o ansiosamente

e ele mais nada me diz

 (24set2020-diz que dia mundial do sonho)

Os amigos são assim...

às palavras carinhosas dos amigos

uma lágrima desponta

não me envergonho

os amigos dizem o que sentem

mesmo que nem sempre

sejam compreendidos

à primeira

os amigos são assim...

uma rosa uma maçã

amizade também é amor

(por alturas do lançamento do livro de Carlos Lopes Pires,

"onde crescem as maçãs" 12set2020)

imperceptível

        o poema 

        nasce quando tem de ser 

        sempre que o pensamento se distende 

        imperceptivelmente 

 

       é então que ele se abre à luz 

 

       e olha à sua volta 

       e começa a ver  

       miríades de coisas 

       que não consegue definir 

 

       começa a movimentar-se 

       irrequieto  

       a uma velocidade incomensurável 

 

       nem sempre o conseguimos alcançar 

 

       uma sensação de perda 

       fica então nas nossas mãos 

 

         e no olhar uma rosa 

         a tentar consolar-nos